Atabaques mudos. Todos atônitos observam a mulher calmamente bebendo no meio do salão. Vestido vermelho, taça de champanhe na mão esquerda, mão direita na cintura. A mãe de santo recomeça a entoar o ponto mas é novamente interrompida:
- Pode parar! Se você quer ir embora, pode ir. Eu fico, e me arranje um cigarro que quero fumar!
- Dona Maria Padilha. Diz a mãe de santo gentilmente, mas deixando transparecer sua preocupação com aquela situação inusitada. - A senhorita precisa ir embora, o dia já amanheceu e Danielle precisa voltar para casa...
- Eu sei. Aliás é por ela justamente que fico. Olha isto aqui (a entidade aponta para o olho de seu cavalo): ROXO! Toda vez que desço encontro Danielle com um dos olhos roxos! Como alguém pode levar a sério uma Pomba Gira com a cara deste jeito?! Para mim chega, se Danielle não resolve isto sozinha, eu resolvo por ela, e me dê o cigarro que lhe pedi!
-Calma Dona Maria, calma. Diz a mãe de santo enquanto lhe acende um cigarro. - Eu já conversei bastante com a menina, sugeri até que denunciasse o Layrton na delegacia da mulher, mas você sabe como é, ela tem medo de perde-lo...
- Medo de perder aquele encosto? E de encosto eu entendo! Ela trabalha como uma mula para sustentar o vagabundo e a única porra que ganha é porrada! E olha que Danielle adora levar uns sopapos, sempre gostou, mas na cama, ela goza quando ganha uns tapas bem dados na cara enquanto cavalga uma bela pica. Mas este é o único lugar onde o encostado não lhe bate, aliás não faz nada, só ronca e baba, não deixando a coitada dormir.
A mãe de santo está sem reação. Dona Aracy é de Ogum, mas nem a valentia e poder de comando do santo são suficientes para resolver esta demanda:
-Tudo bem Dona Maria. Se quer ficar, fique. Mas me diga: o que a senhorita pretende fazer?
- Ir para o Tietê.
- Tietê? Fazer o quê? Nadar naquele rio sujo?
- Não Dona Aracy. Vou para a rodoviária do Tietê comprar uma passagem para Taubaté.
- Primeiro a senhorita diz que fica e agora comunica que vai embora para Taubaté incorporada na menina. Isto é seqüestro!
- Não é não. Se há consentimento da vítima não é seqüestro. ( solta uma estridente gargalhada). Como disse, só quero ajudar a menina. Traga-me a bolsa de Danielle por favor.
Dona Aracy busca a bolsa e a entrega para Danielle, quer dizer, para Maria Padilha, que de lá retira um envelope.
- Abra e leia por favor. Diz Maria Padilha entregando o envelope a Dona Aracy. Trata-se de uma carta:
"EDITORA T
Avenida Tiradentes 69. Centro. Taubaté. CEP 08400-000
Taubaté, 2 de fevereiro de 2007
À
Senhorita Danielle Arruda dos Santos,
Informamos que recebemos uma série de contos eróticos de sua autoria pelos quais nos interessamos muito e pretendemos publicar nas próximas edições da revista LESBIANAS.
Gostaríamos também de saber se há interesse de sua parte em colabora regularmente como escritora em outras publicações eróticas desta editora.
Atenciosamente
José Lins Petra
Editor Chefe"
Avenida Tiradentes 69. Centro. Taubaté. CEP 08400-000
Taubaté, 2 de fevereiro de 2007
À
Senhorita Danielle Arruda dos Santos,
Informamos que recebemos uma série de contos eróticos de sua autoria pelos quais nos interessamos muito e pretendemos publicar nas próximas edições da revista LESBIANAS.
Gostaríamos também de saber se há interesse de sua parte em colabora regularmente como escritora em outras publicações eróticas desta editora.
Atenciosamente
José Lins Petra
Editor Chefe"
A mãe de santo relê a carta, uma, duas, três vezes e a cada leitura novas rugas de interrogação se formam em seu rosto.
- É isto mesmo Dona Aracy. Danielle é uma excelente escritora, de putarias, é verdade, mas isto não diminui seu mérito. À algum tempo que para consolá-la da brutalidade, do ronco e do pau mole do marido, lhe busco durante as madrugadas e conto algumas singelas passagens da minha vida como cortesã libertina pelas cortes europeias. No começo ela tentava disfarçar o calor que estas aulas de história lhe produziam , mas em pouco tempo perdeu a vergonha (ou recuperou a sem vergonhice que tinha perdido) e passou a se masturbar e gozar escandalosamente, e isto na cama ao lado do imbecil do Layrton que nem assim parava de roncar e babar. Um dia ela resolveu escrever uma de minhas histórias e enquanto lia, era eu que me masturbava e gozava como se estivesse numa orgia de Gamiani. A safada é divina com as palavras e transformou minhas putarias em verdadeira obras de arte. Convence-la a mandar os escritos não foi muito difícil e a resposta da editora, como a senhora pôde verificar, chegou em menos de um mês.
Após estas palavras Maria Padilha silencia e volta a beber calmamente sua champanhe enquanto fuma outro cigarro. Dona Aracy, ainda com a carta na mão, observa muda a bela mulher com seu vestido vermelho. Esta cena dura exatos três minutos. A mãe de santo então se mexe. Caminha até a garrafa de champanhe que se encontrava bem no meio do ponto riscado da entidade, completa a taça de Maria Padilha que lhe agradece com um sorriso faceiro. No próprio gargalo bebe um generoso e longo gole quase secando a garrafa, abraça a mulher pela cintura e pergunta:
- Aceita uma carona, senhorita?

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