terça-feira, 5 de agosto de 2008

O VIDRO

A janela é de vidro. Através dela vejo árvores. Trabalho em um parque. Mas o importante é ver o vidro que me separa das árvores. Se saio correndo da mesa de escritório onde estou em direção a goiabeira que começa a florir vou bater no vidro e posso me machucar, ou pior, danificar o vidro. O prédio foi projetado por um importante arquiteto, nada nele pode ser alterado, ele faz parte de um complexo de construções arquitetônicas dedicadas às artes e a cultura dentro de um parque projetado por um importante paisagista. Por isto o vidro é muito importante, melhor esquecer este meu plano de sair correndo em direção a goiabeira que começa a florir.Escuto um barulho: um pássaro que voava pelo parque e que não sabe nada de arquitetura, paisagismo e muito menos de vidros se choca contra este patrimônio transparente e cai no chão. Vou andando até a janela e vejo através do vidro o pássaro caído próximo à goiabeira. Alguns gatos surgem, pegam o pássaro desmaiado no chão e o devoram, depois se deitam na sombra da goiabeira e ficam olhando para o vidro. Felinos espertos: moram perto do vidro que segundo a sua versão da história foi projetado para facilitar a obtenção de comida e liberar sua espécie da difícil e muitas vezes infrutífera arte da caça. Volto para minha mesa, olho para o relógio: 15 minutos para terminar o expediente. Finjo trabalhar organizando coisas que já estão organizadas e que não tem importância nenhuma para mim. Tento fazer os minutos passarem rápido, não quero mais ficar onde estou.

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