sexta-feira, 15 de agosto de 2008

EPIFANIA

Curvado. Mãos suadas. Distribui as hostias: "corpo de Cristo". Voz anasalada. Dicção de padre. Nunca entendi por que celebram as missas assim. Talvez exista uma epístola sobre o tema. Uma bula papal. Seria Pedro um apóstolo fanho? Questões fonológicas transformadas em procedimentos litúrgicos. Aqui, porém, o verbo se faz anasalado graças a um cheiro. O padre respira pela boca. Evita o odor que desde o começo da missa o perturba, entra pelo nariz e desce até seus testículos. Tenta disfarçar dizendo aos fiéis sentir fortes dores na coluna e, todo torto, entrega as hóstias enquanto por baixo da batina seu pau vibra vigoroso, duro como pedra, quase lhe rasgando as vestes.

Olha a fila da comunhão. Logo atrás de Dona Apolónia, a mais carola das velhas carolas frequentadoras daquela paróquia, o cheiro corporificado. Blusa vermelha, saia preta, cabelos escuros cacheados presos por um discreto rabo de cavalo, pele morena sem maquiagem, sem perfume, ou seja: o cheiro por natureza inseparavelmente ligado aquele corpo.
Quando Dona Apolonia recebeu a comunhão as mãos do padre suavam tanto que a velha pôde sentir a hóstia salgar-lhe a boca.
E agora diante de si o cheiro. A piroca estalando enérgica. O corpo se contorcendo, mãos molhadas e tremulas. Ergue a rodela de pão ázimo: "corpo de Cristo." - "Amém" responde o cheiro abrindo a boca e oferecendo a língua para a consagração. Os dedos do padre encostam neste órgão carnudo, alongado, móvel que leve e discretamente os lambe. Epifania. A porra jorrando. Pernas bambas. O homem cai de joelhos. O esperma mancha a batina. Gozo intenso, o coração não aguenta e infarta. Os fiéis assustados fogem correndo da igreja...
O cheiro fica. Observa o corpo caído ao lado do altar mor. Ajoelha, passa a mão esquerda sobre a porra ainda quente que mancha a batina e com a língua sente a hóstia se derreter devagar agarrada ao céu da boca.

Nenhum comentário: