terça-feira, 5 de agosto de 2008

TRANSITO

Olho para a cidade pela janela do ônibus. Sete da manhã, dia nublado, asfalto molhado (choveu a noite inteira), acho que hoje não vai ter luz, mais um daqueles dias em que o cinza paulista gruda no relógio e torna todas as horas equivalentes: sete da manhã, dez da manhã ou três da tarde, tanto faz, o cinza é o único tempo.

Reparo numa moça na calçada, cabelos pretos, roupa preta, me parece bonita. Ela espera passar um ônibus que a levará a algum lugar num sentido oposto ao meu. A moça não me vê. Mas talvez agora eu passe a vê-la todos os dias pela janela do ônibus e ela se torne mais um elemento da paisagem cotidiana do meu trajeto ao trabalho. Alguns dias ela estará mais colorida, mas sensual e outros a acharei feia. Mas sempre estará lá, olhando para a rua e lendo os letreiros com os itinerários dos ônibus que passam. Ela estará lá todos os dias e dela apenas saberei uma coisa: que espera, lê itinerários e espera.

Posso também mudar meu itinerário e nunca mais vê-la, na verdade agora nem me recordo direito do seu rosto, ou de repente ela nem aguarda nenhum ônibus, ou só estava lá fazendo algo completamente diferente da sua rotina. O que tenho de concreto neste momento é que olho pela janela do ônibus e escrevo preso no trânsito desta cidade e espero não chegar muito tarde onde tenho que ir.

Mas ela sem querer, ou saber, se transformou aqui no meu tema e não sei se é porque o trânsito parece diminuir, mas me vejo pela primeira vez sorrindo nesta manhã.

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